sábado, 20 de setembro de 2008

São Mateus Evangelista, 21 de Setembro


 "A inspiração de São Mateus", Caravaggio, 1602



Marcos e Lucas narram a vocação de Levi (Mc 2,13-17; Lc 5,27-32), o publicano, mas sem identificá-lo com Mateus o apóstolo, pertencente ao grupo fundamental dos “doze” (Mt 10,3; Mc 3,18; Lc 6,15). O próprio Mateus é o único a fazer esta identificação desonrosa.
A narração de Mateus – como aliás as de Marcos e Lucas – sublinha fortemente este aspecto pejorativo do passado do apóstolo: os publicanos, cobradores de impostos, eram considerados pelos judeus como a ralé moral da sociedade em perfeita igualdade com as meretrizes, pecadores públicos e os desprezados gentios. “Ao partir dali, escreve o evangelista, viu Jesus um homem sentado na recebedoria, chamado Mateus. E lhe disse: ‘Segue-me’. Levantando-se ele se pôs a segui-lo. Estando Jesus à mesa na casa, eis que chegaram muitos cobradores de impostos e pecadores e sentaram-se à mesa com ele e seus discípulos...” (Mt 8,9-11).
Nada mais nos diz o evangelho sobre Mateus, seu nome desaparece no anonimato coletivo da fórmula “os doze”. Uma tradição antiga, mas sem muitas garantias, fala de que, ao produzir-se a dispersão dos apóstolos pela Judéia, Mateus pregou o evangelho na Etiópia, onde morreu mártir.
Mas não foi por sua ação apostólica que Mateus identificou indissoluvelmente seu nome com a vida da Igreja, mas como autor do primeiro evangelho. “Desde a ressurreição, escreve Maertens, haviam sido coligados alguns episódios da vida do Senhor e se haviam reunido artificialmente narrações em torno de palavras-chave, de tal sorte que pudessem servir de réplica às leituras que os primeiros cristãos ouviam ainda nas sinagogas. Tomando como base essas primeiras redações, Mateus elaborou uma síntese, espécie de sumário para os pregadores. Redigiu-a em aramaico, reunindo principalmente em função da apologética que precisava então sustentar, as provas de caráter messiânico de Cristo e os argumentos que sustentavam as novas posições adotadas pelos cristãos no culto e na observância da lei.”
Escrevendo para judeus-cristãos, insiste no messianismo de Cristo, e sua realização perfeita das profecias da escritura. Mas parece que Mateus além da messianidade de Cristo quer provar também sua divindade.
O evangelho de Mateus é o evangelho da Igreja, o reino messiânico instituído por Cristo. A descrição deste reino é o tema das parábolas, um dos aspectos inolvidáveis da pregação de Jesus.
O Sermão da Montanha, próprio do evangelho de Mateus, por sua simplicidade e elevação, pela beleza de suas concepções sobre a felicidade, a confiança em Deus, a caridade, pela força das antíteses, constitui uma das sínteses dentro do evangelho que nos permitem uma maior aproximação ao caráter e à pessoa de Cristo.

(Cf PALACÍN S.J., Carlos; PISANESCHI, Nilo. Santo nosso de cada dia, rogai por nós!, São Paulo: Loyola, 1991)

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