quinta-feira, 12 de novembro de 2009

São Teodoro Studita, Abade, Confessor / São Luís Versiglia e São Calisto Caravario, Mártires, 13 de Novembro

PAPA BENTO XVI
AUDIÊNCIA GERAL

Praça de São Pedro
Quarta-feira, 27 de Maio de 2009

São Teodoro Studita

Queridos irmãos e irmãs

O Santo que hoje encontramos, São Teodoro Studita leva-nos à plena Idade Média bizantina, a um período bastante turbulento sob os pontos de vista religioso e político. São Teodoro nasceu em 759 numa família nobre e piedosa: a mãe, Teoctista, e um tio, Platão, abade do mosteiro de Sakkudion, na Bitínia, são venerados como santos. Foi precisamente o tio que o orientou para a vida monástica, que ele abraçou com a idade de 22 anos. Foi ordenado sacerdote pelo Patriarca Tarásio, mas em seguida interrompeu a comunhão com ele pela debilidade demonstrada no caso do matrimônio adúltero do imperador Constantino VI. A conseqüência foi o exílio de Teodoro para Tessalônica em 796. A reconciliação com a autoridade imperial aconteceu no ano seguinte, sob a imperatriz Irene, cuja benevolência levou Teodoro e Platão a transferir-se para o mosteiro urbano de Studios, juntamente com uma boa parte da comunidade dos monges de Sakkudion, para evitar as incursões dos sarracenos. Deste modo teve início a importante "reforma studita".
Todavia, a vicissitude pessoal de Teodoro continuou a ser movimentada. Com a sua energia habitual, tornou-se o chefe da resistência contra o iconoclasmo de Leão V, o Armênio, que se opôs novamente à existência de imagens e ícones na Igreja. A procissão de ícones, organizada pelos montes de Studios, desencadeou a reação da polícia. De 815 a 821, Teodoro foi flagelado, aprisionado e exilado em diversos lugares da Ásia. No final conseguiu voltar para Constantinopla, mas não para o seu mosteiro. Então, estabeleceu-se com os seus monges na outra margem do Bósforo. Parece que veio a falecer em Prinkipo, a 11 de Novembro de 826, dia em que o calendário bizantino o recorda. Teodoro distinguiu-se na história da Igreja como um dos grandes reformadores da vida monástica e também como defensor das imagens sacras, durante a segunda fase do iconoclasmo, ao lado do Patriarca de Constantinopla, São Nicéforo. Teodoro compreendera que a questão da veneração dos ícones interpelava a própria verdade da Encarnação. Nos seus três livros Antirretikoi (Contestações), Teodoro faz uma comparação entre as relações eternas intratrinitárias, onde a existência de cada uma das Pessoas divinas não destrói a unidade, e as relações entre as duas naturezas em Cristo, que não comprometem n'Ele a única Pessoa do Logos. E argumenta: abolir a veneração do ícone de Cristo significaria eliminar a Sua própria obra redentora, dado que, assumindo a natureza humana, a Palavra eterna invisível apareceu na carne humana visível e, deste modo, santificou todo o cosmos visível. Santificados pela bênção litúrgica e pelas orações dos fiéis, os ícones unem-nos à Pessoa de Cristo, aos Seus santos e, através deles, ao Pai celeste, e dão testemunho do ingresso da realidade divina no nosso cosmos visível e material.
Teodoro e os seus monges, testemunhas de coragem no tempo das perseguições iconoclastas, estão inseparavelmente ligados à reforma da vida cenobítica no mundo bizantino. A sua importância já se impõe por uma circunstância externa: o número. Enquanto nos mosteiros dessa época não havia mais que trinta ou quarenta monges, da Vida de Teodoro sabemos da existência global de mais de mil monges studitas. É o próprio Teodoro que nos informa sobre a presença, no seu mosteiro, de cerca de trezentos monges; portanto, vemos o entusiasmo da fé que nasceu no contexto deste homem realmente informado e formado pela própria fé. No entanto, mais do que o número, revelou-se influente o novo espírito que o fundador imprimiu à vida cenobítica. Nos seus escritos, ele insiste sobre a urgência de um retorno consciente ao ensinamento dos Padres, principalmente a São Basílio, primeiro legislador da vida monástica, e a São Doroteu de Gaza, famoso padre espiritual do deserto da Palestina. A contribuição característica de Teodoro consiste na insistência sobre a necessidade da ordem e da submissão por parte dos monges. Durante as perseguições, eles dispersaram-se, habituando-se a viver cada qual segundo o próprio juízo. Agora, que fora possível reconstituir a vida comum, era necessário comprometer-se profundamente para voltar a fazer do mosteiro uma verdadeira comunidade plenamente organizada, uma autêntica família ou, como ele mesmo diz, um verdadeiro "Corpo de Cristo". É em tal comunidade que se verifica, de maneira concreta, a realidade da Igreja no seu conjunto.
Outra convicção fundamental de Teodoro é a seguinte: em relação aos seculares, os monges assumem o compromisso de observar os deveres cristãos com maior rigor e intensidade. Por isso, pronunciam uma profissão especial, que pertence às hagiasmata (consagrações) e é quase um "novo batismo", cujo símbolo é a vestidura. Contudo, a característica dos monges em relação aos seculares é o compromisso da pobreza, da castidade e da obediência. Dirigindo-se aos monges, Teodoro fala da pobreza de modo concreto, às vezes quase pitoresto, mas no seguimento de Cristo ela é, desde o início, um elemento essencial do monaquismo e indica também um caminho para todos nós. A renúncia à propriedade particular, esta liberdade das coisas materiais, assim como a sobriedade e a simplicidade, valem de forma radical somente para os monges, mas o espírito de tal renúncia é igual para todos. Com efeito, não podemos depender da propriedade material mas, ao contrário, temos que aprender a renúncia, a simplicidade, a austeridade e a sobriedade. Somente assim pode crescer uma sociedade solidária e pode ser superado o problema da pobreza deste mundo. Portanto, neste sentido o sinal radical dos monges pobres indica substancialmente também a vereda para todos nós. Além disso, quando expõe as tentações contra a castidade, Teodoro não esconde as próprias experiências, e demonstra o caminho de luta interior para encontrar o domínio de si mesmo e, assim, o respeito pelo próprio corpo e do próximo, como templo de Deus.
Mas, para ele, as renúncias principais são exigidas pela obediência, porque cada um dos monges tem o seu modo de viver, e a inserção na grande comunidade de trezentos monges implica realmente um novo estilo de vida, que ele qualifica como o "martírio da submissão". Também aqui os monges apresentam apenas um exemplo de como isso é necessário para nós mesmos, porque depois do pecado original a tendência do homem é fazer a própria vontade, o princípio primário é a vida do mundo e todo o resto deve ser submetido à própria vontade. Mas, deste modo, se cada um seguir somente a si mesmo, o tecido social não poderá funcionar. Só aprendendo a inserir-se na liberdade comum, a compartilhar e a submeter-se a esta, aprendendo a legalidade, ou seja, a submissão e a obediência às regras do bem comum e da vida conjunta poderei salvar a sociedade e eu mesmo da soberba de ser o centro do mundo. Assim, com uma introspecção requintada, São Teodoro ajuda os seus monges e, enfim, também a nós, a compreendermos a verdadeira vida, a resistir à tentação de pôr a própria vontade como máxima regra de vida, e a conservar a verdadeira identidade pessoal – que é sempre uma identidade em conjunto com os outros – e a paz do coração.
Para Teodoro Studita, uma virtude tão importante quanto a obediência e a humildade é a aphilergia, ou seja, o amor ao trabalho, em que ele vê um critério para provar a qualidade da devoção pessoal: quem é fervoroso nos compromissos materiais, quem trabalha com assiduidade, argumenta ele, o é também nos compromissos espirituais. Por isso não admite que, sob o pretexto da oração e da contemplação, o monge se exima do trabalho, também do trabalho manual, que na realidade é, na sua opinião e segundo toda a tradição monástica, o modo para encontrar Deus. Teodoro não tem medo de falar do trabalho como do "sacrifício do monge", da sua "liturgia" e até de um tipo de Missa através da qual a vida monástica se torna uma vida angélica. E, precisamente assim, o mundo do trabalho deve ser humanizado e, mediante o trabalho, o homem torna-se mais ele mesmo, mais próximo de Deus. Uma consequência desta visão singular merece ser recordada: exatamente porque é fruto de uma forma de "liturgia", as riquezas alcançadas a partir do trabalho comum não devem servir para a comodidade dos monges, mas ser destinadas à ajuda aos pobres. Aqui todos nós podemos entrever a necessidade de que o fruto do trabalho seja um bem para todos. Obviamente, o trabalho dos "studitas" não era apenas manual: eles tiveram uma grande importância no desenvolvimento religioso-cultural da civilização bizantina como calígrafos, pintores, poetas, educadores dos jovens, professores escolares e bibliotecários.
Mesmo exercendo uma atividade externa muito vasta, Teodoro não se deixava distrair por aquilo que considerava estritamente pertinente à sua função de superior: ser o pai espiritual dos seus monges. Ele sabia como fora decisiva a influência que tiveram, na sua vida, tanto a boa mãe como o santo tio Platão, por ele qualificado com o título significativo de "pai". Por isso, exercia sobre os monges a direção espiritual. Cada dia, menciona o biógrafo, depois da oração vespertina ele punha-se diante da iconostase para ouvir as confissões de todos. Aconselhava também espiritualmente muitas pessoas fora do próprio mosteiro. O Testamento espiritual e as Cartas põem em evidência esta sua índole aberta e carinhosa, demonstrando como da sua paternidade nasceram autênticas amizades espirituais, no âmbito monástico e mesmo fora dele.
A Regra, conhecida com o nome de Hypotyposis, codificada pouco tempo depois da morte de Teodoro, foi adotada com algumas modificações no Monte Athos quando, em 962, Santo Atanásio Athonita fundou aí a Grande Lavra, na Rus' de Kiev quando, no início do segundo milênio, São Teodósio a introduziu na Lavra das Grutas. Compreendida no seu significado genuíno, a Regra revela-se singularmente atual. Hoje, existem numerosas correntes que ameaçam a unidade da fé comunitária e impelem para um tipo de perigoso individualismo e soberba espirituais. É necessário comprometer-se em defender e fazer crescer a perfeita unidade do Corpo de Cristo, na qual podem compor-se harmoniosamente a paz da ordem e os sinceros relacionamentos pessoais no Espírito.
Talvez seja útil retomar, no final, alguns dos elementos principais da doutrina espiritual de Teodoro. Amor ao Senhor encarnado e à Sua visibilidade na Liturgia e nos ícones. Fidelidade ao batismo e compromisso de viver na comunhão do Corpo de Cristo, entendida inclusive como comunhão dos cristãos entre si. Espírito de pobreza, de sobriedade, de renúncia, castidade, domínio de si mesmo, humildade e obediência contra o primado da própria vontade, que destrói o tecido social e a paz das almas. Amor pelo trabalho material e espiritual. Amizade espiritual nascida da purificação da própria consciência, da própria alma e da própria vida. Procuremos seguir estes ensinamentos, que realmente nos indicam o caminho da verdadeira vida.

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São Luís Versiglia e São Calisto Caravario
Luís Versiglia nasceu em 5 de junho de 1873, em Oliva Gessi, Pádua, Lombardia, Itália em 1873. Aos 12 anos foi estudar para Valdocco. O ambiente intensamente religioso, o entusiasmo missionário e o fascínio e a santidade de Dom Bosco, já nos seus últimos anos de vida, transformaram a postura do rapaz. De Dom Bosco ouviu um dia: "Vem ter comigo, tenho uma coisa para te dizer".
Este encontro nunca chegou-se a dar, porque Dom Bosco faleceu entretanto. Mas Luís foi conquistado da mesma maneira e, no fim dos estudos, pediu para "ficar com Dom Bosco". Nutria no coração a secreta esperança de partir um dia como missionário. Fez os estudos de filosofia e teologia em Roma. Ao mesmo tempo mantinha uma importante atividade pastoral no oratório do Sagrado Coração, junto à estação Termini de Roma. Foi Ordenado Sacerdote Salesiano em 21 de dezembro de 1895.
Tornou-se depois professor e assistente dos noviços em Foglizzo, perto de Turim. Foi sempre um eficaz formador de personalidades, cordial e bom amigo de todos.
Em 1906 ele liderou a primeira expedição missionária salesiana à China, preenchendo uma profecia de Dom Bosco. Logo estabeleceu a casa Matriz em Macau. Foi indicado Vigário Apostólico em Shiu Chow e Bispo titular de Carystus em 22 de abril de 1920. Em 1929, Mons. Versiglia ordenou como padre o salesiano Calisto Caravario. Ambos haviam sido alunos da casa mãe de Valdocco. Padre Calisto nasceu em Cuorgnè, junto de Turim. Em 1922, encontrou-se com Mons. Versilgia e prometeu-lhe: "Segui-lo-ei até a China".

E assim foi. A 23 de Fevereiro de 1930, Don Versiglia e Don Caravario e outros cinco jovens missionários partiram juntos para uma longa viagem apostólica, em visita a uma pequena comunidade cristã em Lin Chow (Li Tau Tseu).
Mas, dois dias depois, foram mortos pelos comunistas, que tinham ódio à Fé católica. Foram mortos por serem missionários católicos que pregavam o Evangelho de Jesus Cristo e, também, por terem defendido algumas jovens catequistas que viajavam com eles e que os bandidos queriam escravizar.
Mons. Luís Versiglia e Calisto Caravário são, pois, os primeiros mártires salesianos. O Papa João Paulo II declarou-os santos em Roma a 1º de Outubro de 2000. A sua festa celebra-se a 25 de fevereiro data de seus martírios, também no dia 13 de novembro que é o dia que a comunidade salesiana celebra a Missa para os benfeitores mortos da Família Salesiana e no dia 28 de setembro, junto com os demais mártires da China.

Fontes:
http://www.inspetoriasalesiana.com.br/missionaria/
http://www.salesians.org.uk/dbuk/saints4.html

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