quarta-feira, 12 de maio de 2010

São Leopoldo de Castelnovo, Presbítero, Confessor (+1942), 12 de Maio

Nasceu em 12 de maio de 1866 em Castelnovo (Herzegnovi), em Boca de Cataro, uma vez terra turca (em 1538), veneziana (em 1687), austríaca (em 1814) e, atualmente, terra yugoslava desde 1919. Materialmente falando, podemos dizer que sua família era pobre (o palácio que possuíam vinha de seus antepassados), mas era, todavia, uma família rica de vida cristã (ele era o último de doze filhos).
A grandeza de coração será, de fato, a sua herança. Certa vez, ele jogava com seus colegas numa pequena praia, em frente de casa; faziam apostas de patacões. Um deles perdeu tudo, ficou com raiva e disse um palavrão. Ele tirou do bolso todos os seus patacões e disse àquele de pouca sorte no jogo: "São todos teus se prometeres que nunca mais dirás palavrões." Deu-lhe todos aqueles que havia e, se abraçando firmaram um pacto. Um belo início este: é necessário ser disponível a sacrificar qualquer coisa de pessoal pelos amigos.
A PRIMEIRA AMIZADE
Quando nasceu, era tão magrinho e raquítico que só depois de um mês puderam batizá-lo com o nome de Bogdan, que significa "Dom de Deus". Um nome oportuníssimo.
O batismo é o ato no qual nos tornamos filhos de Deus e, como nos chamará Cristo - seus amigos. Para Bogdan, aquela será sempre a sua primeira amizade e a essa todas as outras serão subordinadas. Daquele momento, então, ele amou Deus em todos e acima de todos, e amou todos em Deus. É um modo de enriquecer vida e coração. Aquela amizade na qual Deus não entra é incompleta e passageira.
FRADE E SACERDOTE
É fácil sonhar, mas difícil é realizar os sonhos. Bogdan partiu para o seminário de Udine e, de lá, dois anos depois (1884), para o convento de Bassano del Grappa para fazer o noviciado. Uma vida que outros, mesmo sendo mais santos e fortes do que ele, julgariam insuportável, ou até mesmo loucura... Ele, então frei Leopoldo, enfrentou-a com coragem. Depois do noviciado ele retornou aos estudos com um empenho que lhe podia vir somente de um ideal e de um propósito especial. Chegou ao sacerdócio em 20 de setembro de 1890, em Veneza. Não pôde nem ao menos ir a Castelnovo para celebrar ali, entre os seus, a sua primeira missa solene. Para consolá-los, mandou-lhes a sua fotografia. E se impunham ainda mais as renúncias. Daquele dia em diante tinha em mãos, para os amigos que seguramente viria a fazer, um instrumento de valor imenso: o poder de perdoar os pecados, isto é, o poder de liberá-los do maior mal que o homem possa fazer a si próprio, ou seja, aquele de se distanciar de Deus, com o perigo de ficar separado d‘Ele para sempre. Por esta razão, ser ligado no estado religiosos e sacerdotal lhe parecia ainda pouco, para uma missão de tanta responsabilidade.
Amizade se mede sobre a necessidade dos outros, e não sobre a própria comodidade.
AMIZADE SILENCIOSA
Demorou alguns anos em Veneza, como confessor, depois foi enviado a diversos conventos da província religiosa. Passou por Zara, Bassano del Grappa, Capodístria e Thiene.
Os superiores sabiam que dele podiam dispor livremente, e ele, não obstante o seu grande sonho, o qual veremos, aceitava ser transferido como bem lhes parecia justo. Que importava! O bem ele podia fazer sempre e em qualquer lugar, ele podia sobretudo confessar e fazer, pela graça do sacramento, retornarem amigos de Deus e os homens. Mas naquela corrente de amizade ele também estava preso.
Seus penitentes logo se acostumavam a considerá-lo mais um amigo que um juiz. Lamentavam quando ele era transferido e, mesmo depois de anos, lhe escreviam, se não podiam ir visitá-lo. E ele lhes respondia, “roubando” horas de seu sono em meio ao seu muito trabalho.
A verdadeira amizade não é rumorosa nem canta em voz alta suas próprias maravilhas e obras. Ela é um plácido rio que traz vida a um vale silencioso, e não uma torrente que cai impetuosa entre massa de volumes desconexos, levando consigo a pouca vida que ali cresce ou cresceria.
AMIZADE GENEROSA
Padre Leopoldo atraía amigos com a sua assiduidade e, mais ainda, com a sua bondade. Uma bondade exagerada, segundo alguns que assim chegaram a defini-la.
Nesses casos, ele indicava o crucifixo e dizia: "E Ele então? Ele chegou a morrer pelas almas!" E se encorajava a ser mais ainda rico de bondade e de coração para com seus penitentes amigos, mesmo com prejuízo para sua já fraca saúde. Uma amizade que procura a sua própria comodidade às custas dos amigos porta o nome errado: chama-se egoísmo.
OS “PATRÕES” ABENÇOADOS
Além dos penitentes, padre Leopoldo sabia encontrar em cada convento o altar do Santíssimo e aquele de nossa Senhora. Eram os seus preferidos para as visitas e as orações. Pois é belo ter amigos na terra, mas é consolador saber tê-los no céu.
Padre Leopoldo tinha assim muitos santos amigos, começando por são Francisco, com os quais se sentia particularmente “em obrigação”. Mas, sem dúvida nenhuma, seus melhores amigos eram, naturalmente, a Virgem Santíssima e, acima de todos, Deus que, para ele, era "o Patrão Abençoado", sendo Nossa Senhora a “Patroa Abençoada". Pelo "Patrão" enfrentava tudo. Dizia : "Se Ele quer assim, então está bem!"
Contava até com as penas interiores e exteriores, as renúncias, a cruz que Jesus se dignava dividir um pouquinho com ele. E valia a pena procurar, para "o Patrão Abençoado", tantos amigos quantos eram os seus penitentes.
Quanto à "Patroa", o seu confessionário podia ser pobre e frio, mas ele fazia o possível para que a imagem dela fosse sempre adornada de flores naturais.
A ela fazia oração sem interrupção e lhe confiava os casos mais difíceis, seus ou de penitentes-amigos.Chegava mesmo a escrever-lhe bilhetinhos que se poderia dizer de uma criança, se não o soubéssemos de um santo, tanto eram cândidos e afetuosos.
O SEU SONHO
A entrar na vida religiosa e sacerdotal , Bogdan foi animado por um sonho especial: ser missionário na sua terra, rica de história, mas sobretudo rica de contrastes religiosos. Que linda missão: fazer retornar à Igreja Católica quantos se separaram dela. Mas aquele sonho não se realizou da forma que ele imaginou. Como se poderia mandar à dura vida de missão, uma criatura tão frágil?
Quando foi a Capodístria e a Zara, pensou que não resistiria. E a esse respeito pensou também em Fiume, para onde foi transferido em 1923, dali sendo, porém, repentinamente chamado pelo afeto dos paduanos, antes mesmo que dos superiores. O amor não é menos operoso que a inteligência, e padre Leopoldo encontrou o seu modo de ser missionário, ele que, como dizia, se sentia um pássaro na gaiola e com o coração maior que o mar.
ATÉ O FINAL
Em 1909 padre Leopoldo foi mandado a Pádua, onde permaneceria até sua morte, com exceção de um período de internação durante a grande guerra e do breve parêntese de Fiume. E Pádua súbito lhe deu muito trabalho, isto é, muitos amigos a quem prestar a sua obra de confessor.
Eram pessoas de todas as classes sociais: ricos e pobres, doutos e ignorantes, almas boas, necessitadas apenas de uma conselho e almas enlameadas até o pescoço.
E ele tinha para cada um a palavra adequada, habitualmente branda e insubstituível para a circunstância. Era um exercício contínuo de amor para com Deus e para com as almas.
Na verdade, ele não era convencido de oferecer muito, exceto o valor do sacramento, no qual era Deus a conceder o perdão.
Ele dizia que eram eles, em vez, os amigos-penitentes, a dar-lhes ocasião de fazer um pouquinho de bem para desconto dos seus pecados, e a ocasião de fazer-lhes ganhar, juntos, o pão que comia no convento, e o lugarzinho que o "o Patrão" lhe daria no céu.
É mesmo a verdadeira amizade, na qual se dá e se recebe com naturalidade, sem calcular demais.
Com o tampo chegaram a padre Leopoldo achaques vários e se tornou doente, mas ele dava pouca ou nenhuma importância à doença; as almas dos penitentes-amigos valiam mais do que a sua pele.
Mesmo reduzido a uma cela de enfermaria, ele continuava a receber ali os seus penitentes onde confessou umas cinqüenta pessoas na vigília da sua morte.

SUA  SALETINHA
Um dos penitentes do padre Leopoldo chamava o confessionário de "saleta do Padre Leopoldo".Denominou-a assim: "saleta da cortesia" - "Venha, senhor, venha!" dizia o confessor se percebia qualquer hesitação nos menos habituados ao sacramento da reconciliação.
Aos desorientados, que nem mesmo sabiam como comportar-se, dizia: "Venha, senhor, esteja à vontade!"
Aconteceu que um homem se sentou na pequena poltrona em vez de se ajoelhar no genuflexório. E ele, padre Leopoldo, para não humilhá-lo, escutou a confissão ajoelhado.
A gentileza continuava até o final do colóquio. Geralmente ele lançava o convite: "Retorne, senhor, retorne, pois nos tornaremos amigos!"
NÃO FOI DE TODO EMBORA
Padre Leopoldo morreu à 30 de julho de 1942, às sete horas da manhã.
Estava se vestindo para celebrar a missa, à qual jamais renunciava, nem mesmo com a saúde fraca, como naquela manhã em que um colapso cardíaco o surpreendeu. Expirou pronunciando as últimas palavras da Salve Rainha: sua saudação extrema à "Patroa".
A notícia se divulgou rapidamente e muitíssimas pessoas acorreram ao velório. O seu túmulo foi meta de muitas visitas e de tanta veneração, até quando o corpo foi transferido para uma capela - fúnebre a ele dedicada e construída junto à sua cela - confessionário.
Quando o corpo foi reconhecido para as exigências do processo de beatificação, foi encontrado incorrupto. Nem mesmo o seu confessionário foi destruído. Como ele havia prenunciado, este permaneceu incólume entre as ruínas de um furioso bombardeio (14 de maio de 1944), para recordar a imensa bondade que Nosso Senhor ali demonstrou ao perdoar tantos pecados e reatar amizade e graça com tantas almas que d’Ele se tinham distanciado.
Nós podemos acrescentar ainda que o confessionário permanece intacto para testemunhar o longo e árduo trabalho de padre Leopoldo, instrumento eficaz  daquelas amizades reatadas.
UM AMIGO POBRE DA MÃO DE OURO
Aos seus amigos, enquanto era vivo, padre Leopoldo não podia certamente oferecer ajudas materiais. Como recordam os objetos pessoais conservados e expostos, ele mesmo era um fervoroso discípulo da "Dama Pobreza". Se os amigos lhe davam presentes, ele não os conservava para si; existiam os pobres e doentes, dentro e fora do convento, aos quais essas ofertas eram mais necessárias.
Talvez, também nós tenhamos qualquer amigo "da mão de ouro", ou seja, aquele que, sem nos poder das grandes coisas, sabe fazer um pouco de tudo e nos ajuda com boa vontade, com obras e conselhos.
A "mão de ouro" do padre Leopoldo era aquela de um amigo especialmente do espírito, pois, por mais de meio século, ela se levantou inúmeras vezes para abençoar e absolver.
E naquela posição - escarnada e marcada de artrite, mas incorrupta - aquela mão é atualmente conservada e venerada num preciosíssimo relicário.

"Eu me admiro, em todos os momentos, como o homem possa por em risco a salvação de sua alma por motivos absolutamente fúteis e frívolos." (São Leopoldo Mandic)

(Biografia do Padre Leopoldo Mandic, por Leo  Lazzarotto)

Adaptação:
Gisèle Pimentel

Ver também: Santa Joana de Portugal

Fontes:
http://www.firponet.com/Francesco/Servants/LeopoldMandic/Leopold2.jpg

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