terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Beata Eusébia Palomino Yenes, Religiosa (+1935), 09 de Fevereiro

Eusébia Palomino Yenes nasce no crepúsculo do Século XIX ― no dia 15 de dezembro de 1899 ― em Cantalpino, pequena cidade da província de Salamanca (Espanha) numa família rica de fé quanto escassa de meios. Papai Agustín, que todos recordam em seu aspecto humilde, homem de grande bondade e doçura, trabalhador braçal não fixo a serviço de grandes proprietários rurais dos arredores, e mamãe Juana Yenes cuida da casa com os quatro filhos.
Quando o campo repousa no inverno e falta trabalho, o pão escasseia. Então, papai Palomino vê-se obrigado a pedir ajuda à caridade dos outros pobres nas cidadezinhas da região. Às vezes, acompanha-o a pequena Eusébia, de sete anos apenas, ignora do custo de certas humilhações: ela goza daquelas caminhadas pelos atalhos campestres, e saltita alegremente junto do papai que a faz admirar as belezas da criação e da luminosidade da paisagem de Castela tira argumentos catequéticos que a encantam. Depois, tendo chegado a um casario, sorri às boas pessoas que os acolhem e pedem “um pão por amor de Deus”.
O primeiro encontro com Jesus na Eucaristia aos oito anos de idade dá à menina uma surpreendente percepção do significado de pertença, de oferecer-se totalmente como dom ao Senhor.
Muito cedo deve deixar a escola para ajudar a família e, depois de ter dado provas de precoce maturidade em cuidar ― ainda criança ela mesma ― das crianças de algumas famílias do lugar enquanto os pais estão no trabalho, aos doze anos vai para Salamanca com a irmã mais velha e se coloca a serviço de uma família como babá-faz-de-tudo.
Aos domingos à tarde, freqüentando o oratório festivo das Filhas de Maria Auxiliadora conhecem as irmãs, que decidem pedir a cooperação delas na ajuda à comunidade. Eusébia aceita mais do que de boa vontade e se coloca logo a serviço: ajuda na cozinha, carrega a lenha, pensa na limpeza da casa, estende a roupa no grande pátio, acompanha o grupo das estudantes da escola estatal e faz outros serviços na cidade.
Sua posição é, sem dúvida, a de uma empregada, uma criada sempre disponível, com serenidade e garbo, a qualquer exigência da comunidade ou das jovens hóspedes. Algumas dessas estudantes, quase da sua idade, intuem em seu sorriso mesmo trabalhando, a força de um espírito vigorosamente ancorado numa esfera superior; os breves encontros – muitas vezes buscados entrando abusivamente na cozinha – transformam-se muitas vezes em ocasiões de catequese eficaz. Falando com aquela humilde empregada as jovens percebem o seu ardor eucarístico que se exprime em solicitude generosa pelo bem espiritual de cada uma; procuram-na para dela escutarem palavras que percebem derivadas de “uma vida santa, extraordinária”. Dir-se-ia dela – observam – uma pessoa muito instruída em matéria religiosa e teológica. Mas, mais ainda do que suas palavras, e a sua vida que fala.
O desejo secreto de Eusébia, de consagrar-se inteiramente ao Senhor acende e substancia agora mais do que nunca todas as suas oração, todas as suas acções. Diz ela: “Se faço com diligência os meus deveres, agradarei à Virgem Maria e conseguirei um dia ser sua filha no Instituto”. Não ousa pedi-lo, devido à sua pobreza e falta de instrução; acha-se indigna dessa graça: é uma congregação tão grande – pensa.
A Superiora visitadora à qual se confiou, acolhe-a com afecto materno e bondade e lhe garante: “Não te preocupes com nada”. E, de bom gosto, em nome da Madre Geral, decide admiti-la.
Inicia o noviciado em preparação à profissão no dia 5 de agosto. Horas de estudo e de oração alternadas à de trabalho marcam as jornadas de Eusébia, que está no auge da alegria. Dois anos depois – 1924 – faz os votos religiosos que a vinculam ao amor do seu Senhor.
É enviada à casa de Valverde del Camino, pequena cidade que conta, na época, com 9.000 habitantes, no extremo sudoeste da Espanha, região mineira da Andalusia perto dos limites com Portugal. As jovens da escola e do oratório, no primeiro encontro, não ocultam uma certa desilusão: a recém-chegada é uma figura muito insignificante, pequena e pálida, não bela, com mãos grossas e, além do mais, não tem um nome bonito.
Na manhã seguinte, a pequena irmã está em seu posto de trabalho: um trabalho multiforme que a ocupa na cozinha, na portaria, na rouparia, no cuidado da pequena horta e na assistência às meninas do oratório festivo. Alegra-se por “estar na casa do Senhor todos os dias da vida”. É esta a situação “real” de que sente honrado o seu espírito, que habita as esferas mais altas do amor.
As pequenas são logo cativadas por narrações de fatos missionários, ou vida de santos, ou episódios de devoção mariana, ou factos de Dom Bosco, que recorda graças a uma feliz memória e sabe tornar atraentes e incisivos com a força do seu sentimento convicto, da sua fé simples.
Aos poucos, unem-se às crianças também as adolescentes mais molecas, as jovens mais críticas e sofisticadas, que percebem junto daquela freirinha um fascínio inexplicável, uma irradiação de santidade que as transfere para uma realidade desconhecida. E já se fala explicitamente de santidade, também fora do oratório. No pátio chegam, e se detêm com interesse, também os pais das oratorianas, outros adultos, depois os jovens seminaristas em busca de conselhos. Em seguida serão também os sacerdotes a recorrerem àquela humilde freira, desprovida de doutrina teológica, mas com o coração transbordante da sabedoria de Deus.
Tudo em Ir. Eusébia reflecte o amor de Deus e o desejo intenso de fazê-lo amar: suas jornadas operosas são transparência contínua disso e o confirmam os temas predilectos de suas conversas: em primeiro lugar, o amor de Jesus por todos os homens, salvos pela sua Paixão. As santas Chagas de Jesus são o livro que Ir. Eusébia lê todos os dias, e de onde tira pontos didácticos através de uma simples “coroinha” que aconselha a todos, também com freqüentes acenos. Em suas cartas, faz-se apóstola da devoção ao Amor misericordioso segundo as revelações de Jesus à religiosa lituana – hoje Santa – Faustina Kowalska, divulgadas na Espanha pelo dominicano Padre Juan Arintero.
O outro “pólo” da piedade vivida e da catequese de Ir. Eusébia é constituído pela “verdadeira devoção mariana” ensinada por São Luís M. Grignon de Montfort. Será essa a alma e a arma do apostolado de Ir. Eusébia em todo o arco da sua breve existência: destinatários são os meninos, meninas, jovens, mães de família, seminaristas, sacerdotes. “Talvez não tenha havido em toda a Espanha – diz-se nos Processos – um único Pároco que não tenha recebido uma carta de Ir. Eusébia a respeito da escravidão mariana”.
Quando, nos inícios dos anos 30, a Espanha vai entrando nas convulsões da revolução pela raiva dos “sem-Deus” votados ao extermínio da religião, Ir. Eusébia não hesita em levar às extremas consequências o princípio de “disponibilidade”, literalmente pronta a despojar-se de tudo. Oferece-se ao Senhor como vítima pela salvação da Espanha, pela liberdade da religião.
A vítima é aceita por Deus. Em agosto de 1932, um mal-estar improviso e os primeiros sintomas. Depois, a asma, que em momento diversos a tinha perturbado, começa agora a atormentá-la até chegar aos níveis de intolerabilidade, agravada de modo insidioso por variados mal-estares.
Nesse tempo, visões de sangue afligem Ir. Eusébia mais ainda do que os males físicos inexplicáveis. Em 4 de outubro de 1934, enquanto algumas irmãs rezam com ela no pequeno quarto do seu sacrifício, ela se interrompe e empalidece: “Rezai muito pela Catalunha”. É o momento inicial daquela sublevação operária nas Astúrias e da catalã em Barcelona (de 4 a 15 de outubro de 1934) que serão chamadas de “antecipação reveladora”. Visão de sangue também para a sua querida directora, Ir. Carmen Moreno Benítez, que será fuzilada com uma outra Irmã em 6 de setembro de 1936: após o reconhecimento do martírio, ela foi declarada beata.
Entretanto as doenças de Ir. Eusébia se agravam. O médico que a cura, admite não saber definir a doença que, agregada à asma, encarquilha os membros tornando-a como um novelo. Quem a visita sente a força moral e a luz de santidade que irradia daqueles pobres membros doloridos, deixando absolutamente intacta a lucidez do pensamento, a delicadeza dos sentimentos e a gentileza no trato. Às Irmãs que a assistem promete: “Voltarei para dar as minhas voltinhas”.
No coração da noite de 9 para 10 de fevereiro de 1935 Ir. Eusébia parece adormentar-se serenamente. O dia inteiro seus frágeis despojos, enfeitados com muitíssimas flores, são visitados por toda a população de Valverde. Entre todos retorna a mesma expressão: “Morreu uma santa”.
O governo municipal, politicamente “vermelho”, decreta por unanimidade a oferta gratuita de um lóculo “in perpetuo” para essa concidadã, em consideração pelos “relevantes merecimentos de virtude” e pela dedicação desinteressada à educação das crianças mais pobres. No Boletim paroquial de março de 1935, o artigo comemorativo traz o título Entierro de una santa. Escreve-o o Pároco, que conclui: “A sua sepultura será gloriosa”.

Ver também:

Fonte:
http://alexandrinabalasar.free.fr/eusebia_palomino.htm

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