sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Santo Antão, Padre do Deserto, 17 de Janeiro


Desde os primeiros tempos do cristianismo, na própria época apostólica, começa a manifestar-se a vida monástica: a prática dos conselhos evangélicos, renúncia ao mundo, retiro e solidão. Na primitiva Igreja, apareceu também a instituição das "virgens cristãs".

Durante o século III e princípios do IV, aumenta o número dos que, abandonando a família e tudo o que possuíam, se retiravam ao deserto para fazer penitência. "O substancial neste segundo estágio da vida monástica é o retiro à solidão de uma maneira definitiva, isolando-se para sempre do mundo, e entregando-se a determinadas práticas de piedade e penitência, vivendo em perfeita castidade". Eram chamados solitários, eremitas e mais comumente anacoretas. O mais famoso anacoreta foi Paulo, o eremita, morto em 347 no deserto do Egito.

Santo Antão (Antônio) nasceu em Cosme, no Alto Egito. Se a glória do eremita Paulo é ter dado o primeiro exemplo conhecido da vida escondida no deserto, a de Antão é a de ter reunido multidões de solitários sob as regras de uma vida comum. Antão havia recebido de seus pais uma educação profundamente cristã. Pouco tempo após a morte deles, estando com dezoito anos, ele escutou a leitura, na igreja, destas Palavras do Evangelho: "Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dê (tudo isso) aos pobres". Ele toma, assim, estas palavras para si e, querendo cumprir esta ordem à risca, ele se retira no deserto, onde divide seu tempo entre a oração e o trabalho; ele faz sua única refeição após o pôr do sol, ou seja, um pouco de pão, de sal e de água, e às vezes jejua até quatro dias inteiros. O pouco de sono a que se permite é sobre uma simples esteira de palha ou sobre a terra nua.

Assim sendo, com Santo Antão a vida monástica dá um novo passo: passa-se da vida totalmente isolada do anacoreta para uma forma embrionária de vida comum. "Os solitários, seus discípulos, viviam ainda em cabanas isoladas e cada um sozinho; mas todos formavam grupos ou comunidades, colocados sob a direção de Santo Antão. Era, por assim dizer, um termo médio entre a vida eremítica, propriamente dita, e a vida de comunidade cenobítica."

Esta evolução não se deu sem resistências de parte do próprio Antão. Ele buscava a solidão. Mas sua fama logo atraiu outros solitários, que constituíram choças em redor da sua.

Por duas vezes, ele se embrenha ainda mais no deserto e se aprofunda mais e mais na penitência e na oração. Antão viveu dezoito anos ininterruptos de solidão, mas quando seus discípulos chegaram de novo, procurando-o, compreendeu que a caridade é uma virtude superior à própria oração. Nunca, aliás, tinha recusado sua ajuda aos irmãos: no tempo da perseguição de Maximino, tinha descido à cidade de Alexandria para confirmar a fé dos perseguidos e sofrer o martírio. A perseguição o faz retornar ao mundo: "Vamos, diz ele, ver os triunfos de nossos irmãos que combatem pela causa de Deus; vamos combater com eles." Viam-no consolar os crentes em Jesus Cristo nas masmorras, acompanhá-los diante dos juízes e exortá-los à constância. Sua coragem espantava os juízes e os carrascos; ele esteve cem vezes para ser martirizado; mas Deus lhe reservava uma outra coroa. Mais tarde, voltou para combater os arianos. Nos últimos anos de sua vida, embora vivendo na solidão (admitia, contudo, visitas como as de Santo Atanásio, que morou com ele e escreveu posteriormente a sua vida), visitava regularmente seus discípulos do mosteiro de Pispir.

Tendo cessado a perseguição, ele retornou ao deserto, fundou mosteiros e tornou-se o pai espiritual de uma multidão de religiosos. O trabalho manual, os cânticos sagrados, a leitura das Sagradas Escrituras, a oração, os jejuns e as vigílias eram a sua vida.

Assim, a partir de 305, Antão dera início, sem pretendê-lo, ao monacato oriental. Esse movimento difundiu-se extraordinariamente. Segundo o testemunho de Santo Atanásio e do historiador Rufino, os seguidores imediatos de Santo Antão chegaram a seis mil. O passo posterior no desenvolvimento do monacato seria dado por São Pacômio, criador dos cenobitas.

Santo Antão é particularmente célebre por seus combates contra os demônios. Legiões infernais o atacavam e o deixavam semi-morto; os espíritos malignos, para assustá-lo, tomavam as formas mais horripilantes. Mas ele ria dos esforços deles. Após expulsá-los pelo sinal da Cruz: "Onde estavas Tu, Senhor?", ele gritava; e Deus lhe respondia: "Antão, Eu estava contigo e me alegrei com a tua vitória."

O deserto, habitado por anjos, florescia todas as virtudes, e Antão era a alma deste grande movimento cenobítico. Ele morreu aos cento e cinco anos. Sua alegria, ao deixar esta terra, foi tão grande que ele parecia ver o Céu aberto diante de seus olhos, e os espíritos celestes prontos a acompanhá-lo.

Tradução e Adaptação:
Gisèle Pimentel
gisele.pimentel@gmail.com

Fontes:
(Cf PALACÍN S.J., Carlos; PISANESCHI, Nilo. Santo nosso de cada dia, rogai por nós!, São Paulo: Loyola, 1991
Abbé L. Jaud, Vie des Saints pour tous les jours de l'année, Tours, Mame, 1950.

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