sábado, 22 de novembro de 2008

Festa de Cristo Rei, Domingo, 23 de Novembro de 2008



A festa do Cristo Rei foi instituída pelo Papa Pio XI (encíclica Quas primas de 11 de dezembro de 1925). Mas, considerando-se o contexto da época, podemos nos perguntar de que realeza se trata. Seria daquela de que nos falam os Evangelhos?
As palavras « rei, realeza, reino » são comumente empregadas pelos Judeus que conheceram o regime monárquico durante os cinco séculos anteriores a Jesus Cristo. Mas a realeza em Israel tem alguma coisa de original. Na Bíblia, o rei não possui o poder absoluto. Deus é o Rei, é Ele quem governa Seu povo. O rei é apenas seu tenente responsável pelo povo, ao qual deve dar exemplo de fidelidade. É devido à infidelidade do rei Salomão à aliança com Deus que a realeza terá fim em Israel. Todavia, na época de Jesus, propaga-se a crença num Messias, restaurador do reino de Israel. Ela é fortemente preservada devido à humilhação que o povo judeu sofre por causa da ocupação dos Romanos, e também pelo seu desejo de não perder sua própria identidade. Os discípulos de Jesus crerão, até a Sua partida, que Ele veio como Messias para restabelecer a realeza. “Senhor, é agora que Tu vais restabelecer a realeza em Israel?” (Atos 1, 6).
Face a esta expectativa, as palavras empregadas por Jesus não são desprovidas de ambigüidade. Pode-se, com efeito, entendê-las de duas formas distintas. Ele inaugura Sua vida de pregação proclamando a proximidade do Reino de Deus (ou dos Céus, o que quer dizer a mesma coisa). Por esta expressão, pode-se efetivamente imaginar tanto um reino temporal quanto um reino espiritual. Se Ele mesmo se mostra reservado em relação ao título de “rei” que as pessoas querem Lhe atribuir, e se Ele foge quando querem fazê-Lo rei (João 6, 15), Ele reconhece, entretanto, uma forma de realeza: “Tu o disseste: Eu sou rei” (João 18, 37), Jesus responde a Pilatos quando este procura um motivo para condená-Lo. Se Jesus emprega estas palavras da tradição judaica, é no sentido bíblico que elas possuem. Se Jesus tem um reino, este reino não é deste mundo. Portanto ele não tem nada a ver com um poder, uma polícia, um exército. Jesus é até mesmo explícito quanto a isso: “Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos certamente teriam pelejado para que eu não fosse entregue aos judeus” (João 18, 36b). Seu reino é desprovido de toda e qualquer conotação política. Os Evangelhos nos falam desse reino, embora de modo ínfimo e pouco visível, como um grão semeado ou o fermento numa massa, quer dizer, cheios de potencialidades insuspeitas.
Se há um rei, podemos dizer que é um rei às avessas: Ele se deixa aclamar no dia dos Ramos, porém montado num jumento, a montaria dos pobres. Sua força se manifesta na doçura, Seu poderio reside na impotência de um Condenado cravado numa Cruz, o Altíssimo que se fez “Baixíssimo”. É em meio ao escárnio que Ele é chamado de Rei: revestido de um ridículo manto real e coroado de espinhos.
Mas é em meio a toda essa humilhação que explode a realeza do Amor capaz de transfigurar as pessoas e o universo inteiro. Pois este reino que Jesus veio anunciar, Ele o inaugurou ao libertar os cativos de suas prisões, ao curar os doentes, ao reintegrar os excluídos na sociedade, e esta tarefa, agora, é nossa.
Quando, no início do Século XX, foi instituída a festa de Cristo Rei, tratava-se, de fato, de recuperar o poder que a Igreja via escapar-lhe num contexto de secularização. Parece que, desta forma, fica-se bem perto da realeza triunfante esperada pelos primeiros discípulos. Usar um Deus Todo-Poderoso a seu proveito permanece uma tentação sempre presente. Mas isso significa desfigurar a imagem do Deus humilde, espantosamente amoroso, e que vivencia os sofrimentos humanos. O Deus que Jesus veio nos revelar.

Tradução e Adaptação:
Gisèle Pimentel
gisele.pimentel@gmail.com

Fonte:
http://www.partenia.org/francais/archives_fr/archives_2007/b_0711fr.htm 

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